Sábados PerVersos – A Poesia em questão, comemora um ano de encontros mensais (todo último sábado do mês), que priorizam a leitura crítica de poesia.
A proposta consiste em reunir poetas e apreciadores de poesia, no sentido de discutir, estudar, ler e fruir esse gênero literário. O coordenador elege um ou mais poemas de dois poetas contemporâneos, comenta-os e abre para discussão. A cada mês há revezamento da coordenação.
Na reunião do último 31 de outubro, dia em que é celebrado o DiaD – Dia Drummond, evento organizado pelo IMS para celebrar o aniversário de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), o Sábados PerVersos juntou-se oficialmente às comemorações, com uma programação própria que consistiu na seguinte comemoração:
- “poeta de mil faces” – lambe-lambe de capas de livros, trechos de poemas, no muro externo da livraria, a cargo de Luzia Maninha e Zhô Bertholini
- Exibição de trechos do documentário “Consideração do Poema”
- Lançamento da plaquete “o amor não tem importância”, integrada por Conceição bastos, Dalila Teles Veras, Deise Assumpção, Jurema Barreto de Souza, Lenir Viscovini, Luiz D Salles, Márcia Plana, Mireille Lerner, Rosana Chrispim, Solange Rossignoli, Sueli de Moraes e Zhô Bertholini, um volume artesanal de apurado cuidado gráfico de Luzia Maninha, com desenhos de capa de Constança Lucas
- Leitura de poemas de Carlos Drummond pelos integrantes do coletivo encerrou o DiaD que, de ora em diante deverá constar no calendário permanente da Alpharrabio Livraria.
A Casa cheia nos indica que este é o caminho, o da poesia (dtv)
Dia D
a Itabira do poeta
resiste ao tempo
o casarão de janelas azuis
revela o dia
entre a névoa a relembrança
entre a prece e a hipocrisia
tudo que poderia ter sido
e que foi
ao findar do inverno
a passo lento
berra o boi-tempo
a lerdeza mineira
o falso encantamento da tristeza
o lirismo mórbido da burguesia
a mulher de sombrinha preta
de vestido longo
com ares de princesa
a “inglesia ” cortês
a fumaça escura do trem-de-ferro
rumo a Vitória
pela graça do Espírito Santo
pela bandeira a meio pau
o minério que não há mais
as minas que teriam havido
suas guerras gerais
suas brigas em família
suas arengas
seus avais
suas falências
suas abstinências dominicais
o sacro-ofício da poesia
a ingerência do padre
a subserviência da plebe
a imanência das almas
a pedra no meio do calvário
a Itabira do Poeta
há anos resiste ao tempo
efêmera travessia
a avenida de tráfego ofegante
o elefante de quatro asas
a mitologia das letras
o colégio das freiras
as colegiais de pernas roliças
o Pico do Cauê de corpo desfigurado
a paisagem lavrada de Itabira
migra para o Rio de Janeiro
vive em um copo de louça
sobre a mesa do poeta
a moça de olhos de pássaro
da pele da cor de doce de leite
a poesia no pretérito perfeito
a desordem gauche da paisagem
das coisas absurdas
obsoletas
das flores roxas à beira da estrada
o absoluto abismo de Mimas
Itabira
não é mais um retrato na parede
é sede e cinismo
surda obediência à tirania do tempo
sua matéria-prima
bruma de poeira e vento
friagem na espinha
vertigem no ventre
de quem por onde Drummond
se descaminha
inseto raro
cava escava escavaca
sua sofre
escorre sobre si
em sete faces se desdobra
leito sem rio
verso onipresente
voz sem rima
vida sem graça
urbe urgente
liga de ferro e aço quebradiço
véu de nuvens
vidas transparente
passo a passo vaga no vazio
a permanente ausência
joão evangelista rodrigues
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