O XXV encontro de Sábados PerVersos – a poesia em questão, contou com a coordenação das poetas Deise Assumpção e Conceição Bastos que trouxeram para discussão um poema de Manuel Bandeira, “A Estrela” e um poema de Hilda Hilst, X, do livro Da poesia que foram lidos à luz da escritura do homem (Manuel) e da mulher (Hilda), poetas.
A ESTRELA
Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.
Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.
Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alto luzia?
E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.
in: Bandeira, Manuel, Estela da Vida Inteira, RJ, Ed. Nova Froneira, 1993, 23ª ed. Livro: Lira dos Cinqüenta´Anos, p. 174
X
Olhamos eternamente
para as estrelas
como mendigos
que eternamente
olham para as mãos.
E imaginamos
cousas absurdas
de realização.
Cousas que não existem
e cujo valor
é o de consistirem
parte da ilusão.
E olhamos eternamente
para as estrelas
porque parecem diferentes.
E quando agrupadas
eu as revejo individualizadas.
Estrelas… só.
Quem sabe se naquela imensidão
elas sofrem o mal dissolvente,
passivo,
mas dissolvente ainda: solidão.
Brilham para o mundo.
No entanto estão sozinhas
na lúgubre fantasia de pontas.
Nunca, meditem,
nunca as encontraremos
pois elas olham
igualmente para nós
e nos desejam
porque estão sós
In: Hilst, Hilda – 1930-204 / Da poesia / Hilda Hilst – 1a. ed. – São Paulo / Companhia das Letras, 2017 / Livro Presságio – poemas primeiros (1950)
O resultado foi uma belíssima e aprofundada discussão.
Ao final, o compositor, poeta e intérprete Meramolim que pela primeira vez compareceu a um dos encontro, brindou os presentes com uma canja, interpretando, acompanhado ao violão, uma de suas canções.