Cidade Cativa
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“É notável que o encerramento do livro se dê com a palavra ‘entranhas’, talvez esse vocábulo sugira tanto a vivência revelada quanto o desejo duradouro. Talvez seja essa a meta desses poemas: pela geografia pessoal e afetiva que reorganiza a cidade, monumentos e espaços derruídos atravessam o corpo e ressignificam o ‘mirante de avenida e varais’.
Eis a cidade cativa que expande o viver apaixonado e aprisionado ao mesmo tempo. A urbe radicada de tantos desvãos, empurrando o movimento cotidiano para dentro da própria comoção, das décadas vividas e das inevitáveis mudanças que são a semente do jogo poético, vale dizer, da vida que (re) vida e decide, por meio de versos, cantar cada pedra dos tempos idos.
Se os lugares retratados são reconhecíveis pelos habitantes da cidade, eles revelam também o convívio entre qualquer ser e qualquer cidade, dimensão da perda e da passagem da experiência citadina. Isso faz lembrar a ideia de que os poemas não são feitos para a cidade, mas contra a cidade, única forma de amor possível. Assim, a Mauá que a voz poética canta não existe, nunca existiu, melhor dizendo, está construída apenas naquela forma mentada pelos versos, sequestrando à história a (ir)relevância das datas e dos fatos, mesmo quando apresenta a recente destruição do castelinho de Hans Grudzinski ou o envenenamento contínuo do Tamanduateí, é o tempo imemorial que se impõe: é um lugar de poesia, em que a regra principal não se curva ao testemunho ou à narração, antes disso, apura o poema sem qualquer ilusão de redenção, empurrando a pedra do tempo que sempre volta a rolar. (…)”
Danilo Bueno